Adolescente de São Gabriel do Oeste é o primeiro caso de transplante renal sem hemodiálise no MS
Davi Rodrigues, de 17 anos, é o primeiro paciente a realizar transplante renal preemptivo em Mato Grosso do Sul. O adolescente nasceu com uma malformação congênita nos rins e desde então tem passado por vários procedimentos cirúrgicos e tratamentos na Santa Casa de Campo Grande. Agora, após o sucesso no transplante, sua história serve de inspiração como um afago de esperança para as pessoas que esperam nas filas há anos.
Primeiramente, é importante explicar o significado de transplante renal preemptivo, que é a transplantação realizada antes de haver a necessidade do paciente passar pelo procedimento de diálise para filtrar o sangue. No caso de Davi, um adolescente cheio de projetos e propósitos, a cirurgia funcionou como uma garantia de qualidade de vida.
Foto: Divulgação Santa Casa
De acordo com a mãe de Davi, Claudina Rodrigues, a batalha pela vida do bebê começou já nos primeiros dias. “Quando ele nasceu, foi feito um procedimento para desobstruir os ureteres e em seguida, com sete meses, ele precisou fazer uma urostomia, porque ele tinha refluxo. Mais tarde, aos nove anos, ele fez a reconstrução de um lado do rim e com 12 anos ele fez de outro lado”, explicou a cabeleireira e massoterapeuta. A título de curiosidade, urostomia é a exteriorização dos condutos urinários por meio da parede abdominal, permitindo a eliminação constante da urina.
“Em seguida a gente passou pelo médico e ele disse que o Davi teria que fazer transplante, aí eu corri atrás da nefrologista”, disse Claudina. Foi então que uma nova batalha teve início, para começar o tratamento correto, buscando ajuda na Secretaria Municipal de Saúde, no Centro de Especialidades Médicas e, por último, na Santa Casa de Campo Grande.
Após tentar a compatibilidade de transplante com um rim do pai, o adolescente acabou conseguindo, de forma mais rápida, o órgão de um doador falecido. “Quando ele veio fazer a primeira consulta aqui na Santa Casa, tinha menos de 30 dias que ele estava na lista de transplante, foi quando conseguimos”, revelou a moradora de São Gabriel do Oeste, cidade onde a família reside.
Com o sucesso da operação realizada em dezembro de 2021, Davi agora pode seguir sua vida como qualquer garoto de sua idade. “O transplante foi tranquilo e a recuperação dele foi excelente. Desde o primeiro momento o rim começou a funcionar, de imediato”, afirmou a mãe de Davi. “Agora, voltamos para a Santa Casa para poder cuidar a infeção urinária que ele pegou e o tratamento vai durar alguns meses”, completou.
Segundo a enfermeira da Santa Casa que trabalha no atendimento aos transplantados, Karen Leguiça, a rapidez na fila de espera se deve ao fato da doença renal que acometeu Davi ter sido diagnosticada com antecedência e também do preenchimento dos critérios para a realização da cirurgia. “Desde a gestação, a mãe sempre fez acompanhamento médico. E ao encontrar a profissional que cuida dele, a doutora viu na situação clínica a forma de listar o menino em um período em que teria algumas prioridades, tudo com base na lei”, assegurou Karen.
São três os critérios que a enfermeira ressalta que precisam ser atendidos para a realização da transplantação. O primeiro é que o paciente tem que ter menos de 18 anos, o segundo é não ter entrado em diálise, ou seja, antes de haver a necessidade da pessoa passar pelo procedimento para filtrar o sangue. O terceiro é ter um clearance de creatinina menor ou igual a 15, que é um exame que calcula a porcentagem de funcionamento renal.
“Então, qualquer rim que saísse com compatibilidade, seria doado para o Davi devido a essas características”, complementou a profissional de enfermagem. Vale ressaltar que sem atender esses critérios, ele teria que passar pelo processo mais comum, que é o de dialise, ou seja, a filtragem do sangue por hemodiálise é que é demorada, geralmente realizado três vezes por semana, em sessões de quatro horas.
Em meio a tantos perrengues, Claudina reconhece como positivo o atendimento que seu filho recebeu na Santa Casa. “Não tenho do que reclamar. Desde quando ele nasceu, tudo foi feito aqui. A história dele é aqui, são 17 anos em que a equipe médica abraçou ele. A doutora Rafaela tem ele como um filho, ela é uma mãezona. Sempre fomos muito bem atendidos pelas equipes da nefrologia e da urologia”, agradeceu a cabeleireira.
Foto: Divulgação Santa Casa
A mãe do jovem também revelou que durante todos esses anos de tratamentos, internações e cirurgias, a palavra de ordem foi esperança, tanto em Deus, quanto na equipe de profissionais que o atendeu. “A gente entrega a vida do nosso familiar nas mãos dos médicos. E eu falo para as pessoas não perderem a esperança, a gente se abala de vez em quando, mas eu sou igual uma Fênix. Mãe morre e renasce rapidamente”, aconselhou Claudina Rodrigues.
Já o adolescente tem se mostrado contente com a possibilidade de reescrever sua vida e mandou um recado para as pessoas e para a equipe médica. “Eu quero agradecer a doutora Rafaela, a enfermeira Karen, a minha mãe e todo mundo que me ajudou. E também quero falar para quem passou ou está passando o mesmo que eu, para sempre pensar positivo”, finaliza Davi.