MPF recomenda que ministério adote medidas contra colapso da rede de saúde; procuradores de 24 estados assinam documento


Ministério Público Federal diz que 27 capitais do país estão com leitos de UTI para a Covid-19 com lotação acima de 80%. Presidente Jair Bolsonaro usou os termos ‘mimimi’ e ‘frescura’ ao criticar novamente as medidas adotadas diante da pandemia. Profissional da Saúde cuida de paciente com Covid-19 na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na Zona Oeste de São Paulo, em foto de 8 de dezembro.
Suamy Beydoun/Estadão Conteúdo
O Ministério Público Federal (MPF) enviou nesta quinta-feira (4) uma recomendação para que o Ministério da Saúde adote medidas contra o colapso das redes de saúde privada e pública devido à Covid-19. O documento foi assinado por procuradores da República de 24 estados e do Distrito Federal.
“A questão de sobrecarga nos sistemas de saúde é uma preocupação desde o início da pandemia e agora principalmente deve-se olhar para estes indicadores como um alerta real. Os dados são muito preocupantes, mas cabe sublinhar que são somente a ‘ponta do iceberg'”, escreveram os procuradores da República.
O MPF diz que “no momento”, entre as 27 capitais do país, 20 estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 acima de 80%: Porto Velho (100%), Rio Branco (93%), Manaus (92%), Boa Vista (82%), Belém (84%), Palmas (85%), São Luís (91%), Teresina (94%), Fortaleza (92%), Natal (94%), João Pessoa (87%), Salvador (83%), Rio de Janeiro (88%), Curitiba (95%), Florianópolis (98%), Porto Alegre (80%), Campo Grande (93%), Cuiabá (85%), Goiânia (95%) e Brasília (91%).
“A possibilidade de ampliação de leitos de UTI existe, mas não é ilimitada. Entre outros elementos, se impõem a necessidade de equipes altamente especializadas para dar conta de cuidados críticos. Também vale explicitar que, neste momento, em alguns estados brasileiros, as taxas no setor privado estão até mais elevadas do que as do SUS”.
Os procuradores da República afirmam, ainda, que “a adoção de medidas restritivas por gestores estaduais e municipais não afasta a atribuição, tampouco a obrigatoriedade de atuação, do gestor federal”. Nesta quinta, governadores de 14 estados pediram ao presidente Jair Bolsonaro que adote medidas e procure organismos internacionais a fim de adquirir mais doses de vacinas.
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No entanto, mais cedo, o presidente usou os termos “mimimi” e “frescura” ao criticar novamente as medidas adotadas diante da pandemia da Covid-19. Ele fez o comentário durante um evento em que participou em São Simão, sudoeste de Goiás, um dia após o estado ter registrado recorde de mortes pela doença.
“Vocês não ficaram em casa. Não se acovardaram. Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, disse o presidente.
Bolsonaro também destacou a importância do respeito aos idosos e disse que lamenta as mortes, mas completou questionando sobre o futuro do Brasil diante das paralisações das atividades.
“Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doença, comorbidade, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?”, disse.
Bolsonaro volta a criticar o isolamento na pandemia: ‘Chega de mimimi’
Situação do país
O consórcio de veículos de imprensa divulgou novo levantamento da situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h desta quarta-feira (3).
O país registrou 1.840 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas – novamente um recorde desde o início da pandemia – chegando ao total de 259.402 óbitos desde seu começo. Com isso, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias chegou a 1.332. A variação foi de 29% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença.
Já são 42 dias seguidos com a média móvel de mortes acima da marca de 1 mil, 7 dias acima de 1,1 mil, e pelo quarto dia a marca aparece acima de 1,2 mil. Foram cinco recordes seguidos de sábado até aqui. Veja a sequência da última semana na média móvel:
Quinta-feira (25): 1.150 (recorde)
Sexta-feira (26): 1.148
Sábado (27): 1.180 (recorde)
Domingo (28): 1.208 (recorde)
Segunda-feira (1º): 1.223 (recorde)
Terça-feira (2): 1.274 (recorde)
Quarta-feira (3): 1.332 (recorde)
Em casos confirmados, desde o começo da pandemia 10.722.221 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus, com 74.376 desses confirmados no último dia. A média móvel nos últimos 7 dias foi de 56.602 novos diagnósticos por dia. Isso representa uma variação de 27% em relação aos casos registrados em duas semanas, o que indica tendência de alta também nos diagnósticos.
Dezesseis estados e o Distrito Federal estão com alta nas mortes: PR, RS, SC, SP, DF, MS, AC, PA, TO, AL, BA, CE, MA, PB, PI, RN e SE.
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