Três dias antes do colapso em Manaus, empresa pediu apoio logístico ao Ministério da Saúde para envio de oxigênio


White Martins confirma envio de e-mail no dia 11 de janeiro. Nos dias 14 e 15, cidade passou por colapso no sistema de saúde devido à falta de fornecimento de oxigênio no atendimento a pacientes com Covid-19. Enterros de Covid-19 no cemitério Nossa Senhora Aparecida em Manaus (AM)
Sandro Pereira/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Três dias antes do colapso em Manaus por causa da falta de oxigênio para pacientes com Covid-19, a White Martins, que fornece o produto, mandou um e-mail pedindo apoio logístico ao Ministério da Saúde para envio do insumo.
O caso foi revelado neste domingo (7) pelo jornal “Folha de S.Paulo” e confirmado pelo G1.
Em 14 e 15 de janeiro, quando a crise na capital do Amazonas atingiu seu ápice, 31 pessoas morreram por falta de oxigênio, segundo documentos obtidos pelo Ministério Público de Contas.
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Neste domingo, a White Martins disse que “confirma o envio do e-mail em questão no dia 11 de janeiro”. A empresa não forneceu mais detalhes, mas informou que “se reserva ao direito de comentar o assunto de forma mais detalhada oportunamente”.
Em nota, o Ministério da Saúde informou neste domingo que “somente em 17 de janeiro de 2021, por meio de mensagens eletrônicas enviadas ao secretário de Saúde do Estado do Amazonas à Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, que o Ministério da Saúde teve ciência da existência do e-mail da White Martins” (leia íntegra ao final desta reportagem).
Em 28 de fevereiro, a pasta já havia corrigido um documento oficial entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a data em que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi informado a respeito doem Manaus (leia abaixo sobre as mudanças de versões da pasta).
Além de provocar as mortes, a falta de oxigênio fez com que pacientes tivessem de ser transferidos para outros estados durante os dois dias de colapso no Amazonas (assista ao vídeo abaixo). Manaus teve recordes de sepultamentos diários, e houve fila de carros funerários na porta dos cemitérios.
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Três versões diferentes
Em 23 de janeiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao STF abertura de inquérito para apurar a conduta de Pazuello sobre o enfrentamento da pandemia no Amazonas.
Aras tomou a decisão após analisar representação do partido Cidadania que aponta suposta omissão do ministro e de seus auxiliares, além de informações preliminares prestadas por Pazuello sobre a crise.
A pedido do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, a Polícia Federal (PF) abriu o inquérito para apurar a conduta do ministro da Saúde durante a crise sanitária.
Pazuello prestou depoimento uma semana depois, mas mudou a versão que havia divulgado para a imprensa dias antes: inicialmente, disse que foi informado do problema de fornecimento em 8 de janeiro, por um e-mail da White Martins; mas, à PF, declarou que soube dos problemas dois dias mais tarde, em 10 de janeiro, e que nunca recebeu oficialmente um e-mail da empresa.
Em 28 de fevereiro, um ofício entregue ao STF, assinado pelo secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, apresentou ainda uma terceira data e versão: o Ministério da Saúde afirmou, na ocasião, que o e-mail da White Martins chegou, sim, à pasta, mas no dia 17 de janeiro.
O que diz o Ministério da Saúde
Leia, abaixo, a íntegra da nota divulgada pela pasta neste domingo:
“Como explicado às autoridades pelo Ministério da Saúde, em 8 de janeiro, a pasta enviou cilindros de oxigênio gasoso ao estado do Amazonas, atendendo à uma solicitação da Secretaria Estadual de Saúde. Essa solicitação aconteceu em 7 de janeiro, via contato telefônico ao ministro Pazuello. Além do produto, foi solicitado também o apoio logístico, sem menção alguma ao colapso de falta de oxigênio. Na mesma data, poucos momentos após a chamada, o ministro contatou seu homólogo na pasta da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, para suporte logístico no transporte de 150 cilindros do oxigênio gasoso.
Em 10 de janeiro, foram enviados mais 200 cilindros. E entre essa data e o dia 14, sem qualquer menção ao colapso de oxigênio medicinal em Manaus, a pasta providenciou mais tanques do gás, cilindros, ventiladores pulmonares e usinas fornecedoras do produto. Essas providências e outras ações em benefício dos amazonenses foram mantidas nos dias seguintes até, pelo menos, 9 de fevereiro.
Cabe esclarecer que, somente em 17 de janeiro de 2021, por meio de mensagens eletrônicas enviadas ao secretário de Saúde do Estado do Amazonas à Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, que o Ministério da Saúde teve ciência da existência do e-mail da White Martins”.

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