Sabia? Guerra entre Rússia e Ucrânia vai encarecer a vida do sul-mato-grossense
Os rumores cada vez mais contundentes de um conflito militar armado entre Rússia e Ucrânia não trarão boas consequências para ninguém. É o que acredita o secretário de Produção, Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, que – em um vídeo divulgado nesta quinta-feira (24) – explicou que o momento é de preocupação e agiu como um diplomata, ao enfatizar que em guerra não existe vencedor – todo mundo perde.
Como todas as economias mundiais estão interligadas, as primeiras consequências já são visíveis em todo o mundo, principalmente pelo mercado financeiro, com as bolsas de valores registrando quedas significativas diárias e sucessivas, mesmo que a nação em questão não participe do conflito bélico. Outra consequência desastrosa para o mundo será a disparada do preço do petróleo, podendo chegar a valores inimagináveis. Isso porque a Rússia fornece gás para aquecer as residências de todo o continente europeu.
Em um conflito militar, esse fornecimento seria cortado e o Velho Continente teria que voltar à prática das usinas termelétricas de petróleo, que possuem alto custo e são extremamente poluidoras. Nenhum país europeu é autossuficiente em gerar energia eólica e solar e a energia nuclear vem sendo abandonada pelos elevados riscos de acidentes com consequências catastróficas, como a que aconteceu em Chernobyl, na Ucrânia, em abril de 1986. Na Alemanha, por exemplo, as últimas ações da ex-chanceler Angela Merkel foi o fechamento de usinas nucleares.
Na avaliação de Jaime Verruck, a intranquilidade e a insegurança são nítidas no mundo. No Brasil e, em particular, no Estado de Mato Grosso do Sul, a primeira consequência nefasta seria o encarecimento dos fertilizantes utilizados em toda a produção agrícola, prejudicando os grandes plantios de milho e soja, além de atingir o desenvolvimento de outras culturas agrícolas que ainda sem encontram na penumbra da insipiência, inibindo assim qualquer possibilidade de diversificação de plantios em um curto prazo. De quebra, com menos farelo de soja e milho, toda a pecuária brasileira seria abocanhada com a mudança de hábitos alimentares em todos os tipos de rebanhos.
Jaime Verruck não teceu comentários sobre a exorbitância na qual os preços dos fertilizantes poderiam atingir, mas deixou claro que não seria nada bom para o Estado, principalmente ao lembrar da visita da ministra Tereza Cristina à Rússia no final do ano passado, com a missão de importar mais fertilizantes. Há uma semana, Tereza Cristina esteve no Irã com a finalidade de diversificar a pauta importadora destes produtos. A questão, neste caso, é que Irã e Rússia são aliados militares em uma possível cruzada militar contra os Estados Unidos e países que fazem parte da Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte, cuja entrada é pretendida pela Ucrânia e, ao mesmo tempo, rechaçada pela Rússia.
Após as quedas nas bolsas de valores e a disparada do preço do petróleo, a próxima consequência em caso de consolidação deste conflito militar, seria o encarecimento dos preços das commodities agrícolas, o que, na avaliação de Jaime Verruck, pode beneficiar os exportadores brasileiros, ao mesmo tempo em que atrapalhar os negócios de todos eles no sentido prático de manutenção do Brasil como uma potência do agro.
Como manter a potencialidade do agronegócio sem fertilizantes de qualidade provenientes da Rússia? Ano passado, por exemplo, o Brasil importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes. Neste caso, a única ação eficiente que o Brasil começou a praticar foi a desconcentração da chegada de fertilizantes pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), distribuindo a “carga russa” também para os portos de Santarém (PA), Barcarena (PA), Itacoatiara (AM) e Itaqui (MA). Entretanto, esse esforço tinha como objetivo abater parte do custo do frete gerado nas rodovias brasileiras, cujos caminhões movidos a diesel com preços em alta eram obrigados a repassar para os produtores rurais, que, por tabela, jogavam a conta para todos os brasileiros efetuarem sua parte no pagamento, no chamado custo de produção.
Para Jaime Verruck, essa tensão entre Rússia e Ucrânia é muito mais grave do que aparenta ser porque já demonstrou que vai bagunçar as economias, elevar todos os custos do agronegócio e vai promover uma grande desorganização logística entre os países envolvidos e os que não fazem parte do conflito, principalmente as nações que dependem de produtos exportados por Rússia e Ucrânia, que também comercializa fertilizantes. “Vai atingir em cheio várias economias e praticamente todos os países serão afeitados, incluindo o Brasil e o nosso Mato Grosso do Sul. Melhor é torcer por uma resolução diplomática e pacífica”, crê Verruck.
Aprosoja e Sistema Famasul estão “observando” os desdobramentos do conflito
A Aprosoja – Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil – emitiu uma nota oficial marcada pela cautela sobre o iminente conflito no leste europeu. O presidente da Aprosoja, Antônio Galvan, afirmou que a região é fornecedora de quase 100% dos fertilizantes que serão utilizados na safra de soja 2022/2023, que terá início a partir do último trimestre deste ano.
Para Galvan, ainda é cedo para fazer qualquer avaliação em termos de impacto no fornecimento do cloreto potássio e, também, com relação aos preços que serão praticados. “Os países do leste europeu são nossos grandes fornecedores. Isso nos preocupa, assim como a elevação do preço do barril de petróleo, que impacta toda a cadeia produtiva de alimentos e a atividade econômica em escala global. Estamos observando este conflito com muita cautela”, afirmou.
Já o Sistema Famasul – Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul – foi pelo mesmo caminho e destacou que “está fazendo o monitoramento de possíveis efeitos desse conflito lamentável e que vai aguardar os desdobramentos”. Entre os técnicos do Sistema Famasul, ainda é precoce traçar caminhos para uma crise que está no nível de ameaça máxima, mas que, de fato, não se transformou em guerra.
Em Grosso do Sul, há dois frigoríficos de JBS credenciados a exportar carne bovina para a Rússia: um em Naviraí e outro em Três Lagoas. Nos últimos anos, o Brasil tem exportado, em média, cerca de 150 mil toneladas de carne para a Rússia – pouco mais de 10% das vendas externas totais do produto. Por ano, essas exportações correspondem a um faturamento de US$ 487 milhões, com 8% da receita. Já na carne suína, e sem participação de Mato Grosso do Sul, as exportações para a Rússia chegaram a 259 mil toneladas, com faturamento de US$ 693 milhões.